Depoimentos/Textos
Livro Pernas, para que te Quero?
Como
um organismo, fazendo sinapses
Tenho
a impressão que este foi o bordado mais difícil que já fiz. Pela dificuldade
técnica e criativa em bordar as seis figuras humanas do risco (meu repertório
de pontos, quando não estou no grupo ou meus livros de bordado não estão à mão,
acaba sofrendo com meus esquecimentos), pelo prazo pequeno para bordá-las (moro
no interior de SP e logo depois que recebi o tecido, viajei para Salvador e por
questões pessoais, só pude começar bem depois de tê-lo em minhas mãos). Mas
principalmente pelas dúvidas em como (a)bordar um risco que simboliza uma
ciranda.
Para
além do gesto solidário – as mãos dadas – uma ciranda sugere movimento,
inconstância às vezes, roda, dança, renovação. E muito mais. Numa Ciranda
Bordadeira, em meio ao gesto de bordar, histórias de vida se cruzam,
experiências muito pessoais são narradas ora com suavidade, ora com dor, ora
com muita gargalhada, simpatia, empatia, acolhimento.
Fiapos
de comentários começaram a pipocar pela cabeça, a partir da seguinte pergunta:
o que atrai uma pessoa para um grupo de bordado? Ter sido fisgada diante de um
lindo bordado? A simplicidade do risco ou a riqueza dos pontos? A delicadeza ou
o contraste das cores? O prazer de bordar em grupo? E quando se descobre que
bordar não é tão difícil assim, é uma beleza!
A
ilustração trouxe figuras arranjadas de forma que me puseram a refletir: embora
apresente diversidade de tipos no grupo, as duas personagens situadas nas
pontas do semicírculo são masculinas. Eu teria ficado bem mais tranquila se
elas estivessem mais misturadas no grupo e não “guardando” as outras (atenção
às aspas)… Ou “segurando as pontas”, né, Jaci? Por outro lado, a figura de uma
jovem de mãos dadas com uma mulher mais velha sugeria uma história comum a
quase todas as bordadeiras: os primeiros pontos aprendidos com a mãe, a avó,
uma tia… Elas poderiam ser um foco importante do bordado.
Um
pouco no embalo dos movimentos da ciranda, comecei a bordar. A primeira decisão
foi apenas contornar as pessoas, em preto, como os traços do ilustrador, ou
seja, bordar menos as figuras e mais os arredores, como se estivessem sendo
tomadas, invadidas, capturadas – tudo no bom sentido - pelo bordado do entorno.
Como representar isso?
Comecei
com círculos multicoloridos no chão, caseados, correntes, fios de diferentes
cores, texturas e calibres. Desmanchei, ficou muito pesado. Depois, fiz uns
bordados subindo pelas figuras. Desmanchei de novo, as figuras estavam
amarradas ao chão. Mais tentativas infelizes, mais desmanchamentos, a ponto de
começar a prejudicar o pano aquarelado.
Como
o tecido já tinha suas cores, optei então por bordar a parte inferior do risco
com cores neutras, usando linhas moliné, merce, perlê. E passei a usá-lo como
miniteares, tecendo meio sem rumo, sem saber muito aonde aquilo ia dar. Nos
intervalos ou encontros das minitecelagens, passei a colorir com uns pontos
rendados, que iam de mão em mão, sem começo nem fim, com algo mais elaborado a
partir das mãos da senhora e da jovem, pontuando a sua importância na minha
concepção.
Ao
mesmo tempo, comecei a olhar para o céu e me lembrei de uma conversa com meu
marido, sobre galáxias. Ele comentou que não queria nem pensar que tinha tudo
aquilo sobre nossas cabeças. Resolvi então bordar um céu que poderia sugerir galáxias,
inspiradas também em filmes de ficção científica e em algumas telas de Miró.
E aí
minha irmã vê de relance o bordado e exclama: parecem sinapses!
É
isso, matou a charada: sinapse. Segundo a biologia, é comunicação, é ponto de
encontro.
Vera Simonetti
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EU ACHEI A IDEIA DO PERNAS
PARA QUE TE QUERO.
MUITO LEGAL PORQUE PERNAS
PARA QUE TE QUERO? É UM LEMA QUE EU TENHO, - EU QUERO PERNAS PARA ANDAR ,
PARA SER AUTÔNOMA, PARA PASSEAR, PARA ME DIVERTIR - E EU ME DIVERTI MUITO FAZENDO ESTE PROJETO, APESAR DE NO MEIO
DO CAMINHO TER TIDO UNS CONTRATEMPOS, AINDA ASSIM CONSEGUI FINALIZAR E GOSTEI MUITO DO RESULTADO.
FIQUEI MUITO FELIZ COM
MINHA PARTICIPAÇÃO E ADOREI TODOS OS TRABALHOS FICOU TUDO MUITO LINDO OBRIGADA!
Tânia Kracochansky
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Quanto ao grupo, quanto troca de experiências, pontos e dúvidas
trocadas. Enfim, foi muito bacana.
Obrigada Jaci pela oportunidade e a todas as participantes
um beijo enorme. Foi super legal
participar deste projeto.
Rosely Gomes Pereira
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Sou tradutora por formação, tenho 49 anos e sou um “projeto” em
constante desenvolvimento. Sempre achei que não era uma pessoa criativa, que
não era capaz de criar peças bonitas, sempre acreditei que o bonito era o
perfeitamente executado. Por isso, durante anos, nunca cogitei entrar para o
universo da arte manual. Até que a beleza do bordado me cativou! Resolvi
conhecer e fui fisgada! Mas foi nesse projeto do livro que eu finalmente me
realizei como “bordadeira artista”. Foi desmanchando um ponto que descobri a
textura que estava procurando!! Que libertador foi essa descoberta. O bordado é
um constante aprendizado: às vezes a solução não está na perfeição, na execução
precisa e textual de um ponto, mas está escondida na bagunça do avesso!
Obrigada Jaci, por me presentear com mais uma oportunidade de evoluir!
Priscila Bueno
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Oi meninas, bom dia a todas, eu estava ouvindo aqui os
depoimentos de todos e assim cada uma disse aquilo que eu penso e eu ia dizer,
só tenho acrescentar o seguinte: o maior prazer de ter feito e fazer parte
deste grupo todo enorme - para mim é enorme - é pertencer e ter um objetivo em
comum a todas - independente do bonito,
feio, perfeito, imperfeito, ficou, não ficou - é exatamente o prazer de fazer,
isto para mim é o mais importante - é o caminho para se chegar - porque depois
que chegou já está na hora de começar um novo.
Corine Goldenberg
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Vou dizer...." Foi uma experiência carregada de emoções...Pela
primeira vez participando de um projeto, de um livro que tem tudo para ser sucesso, não somente pelos bordados mas pelo
objetivo social . Ansiedade de principiante , participando com verdadeiras
artistas do bordado...com dúvidas se corresponderia às expectativas, mas ao
mesmo tempo muito entusiasmada.Enfim, um período de muitas emoções! Adorei bordar para esse lindo projeto!
Bernadete Granado
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É UMA HONRA PARTICIPAR, já foram alguns que eu recebi seu
convite de sua parte, da Ciranda Bordadeira,
POR MEIO DA ARTE DO BORDADO LIVRE QUE ADORO E QUE É UMA EXPRESSÃO ARTÍSTICA COM A QUAL ME IDENTIFICO
MUITO, EU AMO FAZER. E COM ESTE
TEMA PERNAS
PARA QUE TE QUERO QUE FALA DA INICIATIVA, DA LUTA, DE IRMOS ATRÁS DE NOSSOS
OJETIVOS E COM ESTE TEMA QUE É TÃO LIGADO À MINHA VIDA QUE É PERNAS PARA QUE TE QUERO - AUTONOMIA -
QUE É O DESENHO DA FUNDAÇÃO DORINA NOWILL QUE MOSTRA JUSTAMENTE UMA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA VISUAL INDO EM BUSCA DESTA AUTONOMIA POR MEIO DE UM PROCESSO DE
REABILITAÇÃO NA FUNDAÇÃO.
E EU QUIS TODA VEZ QUE EU
FAÇO UM BORDADO EM QUE A GENTE PASSA HORAS E HORAS - SEI LÁ 50 HORAS EM CIMA DAQUELE TEMA
CONSTRUINDO AQUELE RESULTADO FINAL, VOCÊ SE ENVOLVE BSTANTE EMOCIONALMENTE, EU
ACHO QUE QUANDO O TEMA TEM UMA LIGAÇÃO JÁ COM SUA VIDA ELE SE TORNA MUITO MAIS
FORTE E IMPORTANTE.
EU FIQUEI MUITO FELIZ E TENTEI AO MÁXIMO POR MEIO DO BORDADO
MOSTRAR O QUE A FUNDAÇÃO É PARA MIM. UM LUGAR DE ESPERANÇA, QUE TRANSFORMA PESSOAS, UM LUGAR QUE TRAZ NOVAS
POSSIBILIDADES DE VIDA ENTÃO EU QUIS REALMENTE TAMBÉM BORDAR BEM COLORIDO - UMA
PESSOA COM DEFICIÊNIA VISUAL QUE É BEM
ATIVA, QUE TEM SONHOS, QUE ESTÁ INDO ATRÁS
DE ALGO PARA SE REALIZAR , QUE TEM OBJETIVO, ENTÃO TENTEI FAZER ISSO COM
O MÁXIMO DE CARINHO E DEDICAÇÃO QUE EU SEI QUE A FUNDAÇÃO SEMPRE TEM COM CADA
PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL QUE PASSA POR LÁ, MUITO CARINHO, MUITA DEDICAÇÃO
MUITO PROFISSIONALISMO, UMA EQUIPE ALTAMENTE ESPECIALIZADA. ENTÕ EU ME PREOCUPEI MUITO EM RETRATAR ESTE
RELACIONAMENTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL E O SIGNIFICADO QUE A FUNDAÇÃO
TEM PARA ELE. E MUITO POR MEIO DAS CORES, OS PONTOS INUSITADOS, EU REALMENTE
FIQUEI FELIZ COM O RESULTADO FINAL, FIQUEI CONTENTE. A ORIENTAÇÃO QUE EU TIVE TAMBÉM, TINHA FEITO
UMA PARTE ACHEI QUE JÁ ESTAVA BOM, RECEBI UMA ORIENTAÇÃO SUA E DAS OUTRAS
ALUNAS TAMBÉM SE EMPOLGARAM E DERAM ALGUMAS DICAS PARA FINALIZAR, QUE ACHEI QUE
FORAM BEM IMPORTANTES NO FINAL, FIQUEI
COM UM POUCO DE RECEIO DE FICAR MUITA COISA, MAS FICOU REALMENTE MUITO
BOM. O CÉU TRABALHADO A PARTE DO CHÃO TAMBÉM - ENTÃO FIQUEI BEM FELIZ, ESPERO
QUE AS PESSOAS GOSTEM, QUE O RESULTADO TAMBÉM TENHA FICADO À ALTURA DO PROJETO.
OBRIGADA PELO CONVITE.
Anne Olesen
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Então meninas, seguinte: quando eu entrei na aula da Jaci,
estava acontecendo o trabalho dos corações para a fundação Dorina Nowill. E eu
achei aquilo de uma delicadeza de alma tão uma coisa tão forte e tão profunda
que eu até fiquei meio enciumada. Mas eu estava entrando naquela hora mas eu
pensei: será que algum dia eu vou conseguir participar de alguma coisa?
Não tem nem um anoque eu entrei, mas para minha surpresa, uns
meses depois quando aconteceu o projeto Pernas
pra que te quero? a jaci me convidou
e eu fiz uma cara de espanto e eu me vi com cara de espanto e pensei: como?
porque tão pouco tempo aprendendo os pontinhos com a jaci e com todo mundo como
eu poderia ter capacidade e ela confiar que eu fosse dar conta de mais um
trabalho maravilhoso da turma toda que é coordenado por ela. Mas ela me falou
assim: como assim? e a Anne estava junto e falou: lógico que você vai
conseguir.
E na hora do sorteio foi engraçado porque o tema que caiu para
mim tinha muito a ver e eu sou muito crítica com as coisas que eu faço, eu
exijo de mim o perfeito, eu não sei se ficou perfeito, eu no fundo acho que
não, mas ei amei fazer, eu faço com o
coração tudo que eu faço e o tema também tem muito a ver comigo por conta da
afetividade, eu sou uma pessoa muito afetiva, eu quero todo mundo assim para
mim...
Amei participar, já estou aqui sentada esperando o próximo
trabalho.
O mais importante de tudo isso, além da professora dar aquele
respaldo para gente, aquela coisa toda de ensinar, instruir,f alar, as opiniões
das amigas em sala, falando o que é melhor, elogiando,... assim foi... eu não
sei dizer qual o trabalho mais bonito,estão todos maravilhosos, cada um dentro
do seu tema, não vejo a hora de ver tudo acontecendo, o livro, o lançamento, as
fotos.... Muito obrigada a todos....
espero continuar bordando com todas por muito tempo.
Angélica Moura
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Quero agradecer a oportunidade de participar deste grupo
maravilhoso, foi muito emocionante a contribuição de todas, depois eu
necessitei do apoio e a continuidade do
meu trabalho com a Corinne foi maravilhosa!
parabéns a todas.
Ana Paula Yamashita
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Com uma vivência muito grande nas artes plásticas em uma
infinidade de mídias, além de um grande número de técnicas, também comecei
muito cedo em bordado, tricô e crochê graças à influência de minha mãe e minha
avó. conviver na Ciranda Bordadeira sob a inspiradora e firme orientação da
Jaci além da intensa parceria com as amigas bordadeiras tem sido um bálsamo e
uma agradável variação em minha vida de artista plástica. Nós bordadeiras,
multi tarefas, juntamente com as nossas demais atividades do dia a dia nos
sentimos sempre a um passo da beira do abismo, da peça bordada incompleta.
Então, como que num passe de mágica a inspiração icônica e a técnica adequada
surgem na hora exata de darmos conta do recado bordado. Creio que isso é fruto
da tríade: nobreza da missão, liderança da Jaci e suporte das colegas.
Agnes Franchini
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"Recebi seu novo livro com a linda dedicatória. Quero dizer que
sou eu o privilegiado pela sua amizade. O livro é um primor de beleza pelo
texto, pelas intenções e pelas ilustrações. Nunca vi coisa tão bonita em livro.
Parabéns"
Walter Trinca
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Tive o
privilégio de estar em S. Paulo por ocasião do lançamento. Tudo me encantou: o
tema, as ilustrações, os bordados são verdadeiros deleites para os olhos. É um
livro que não pode faltar na biblioteca de quem aprecia a arte do bordado.
Parabéns à autora, ilustrador e bordadeiras.
Rosa Paranhos
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Estou muito feliz com a chegada do LINDO livro PERNAS, PRA QUE
TE QUERO? O trabalho é resultado do " Projeto Ciranda Bordadeira",
coordenado por minha querida Jaci Ferreira.
Ela como curadora já realizou diversas exposições
em São Paulo e outras capitais ,inclusive Belém onde esteve por duas vezes para
ministrar a Oficina "Bordando Memórias" . Nessa oficina , Jaci
conduziu as participantes por uma linda viagem bordando suas ancestralidades.
Esse evento marcou minha vida e de outras ilustres e queridas amigas Katia Esteves, Rosa Paranhos e Andréa Cozzi além de outras felizardas.Desde a infância, o cotidiano de Jaci foi colorido pela presença de tecidos e linhas. Filha de costureira, muito cedo aprendeu a fazer acabamento nas peças, entremeando as brincadeiras de criança com chuleados, cerzidos e caseados. Essa mestra considera que o bordado pode ter um efeito psicoterapêutico, pois propicia um recolhimento fundamental nesses tempos de estímulos constantes, destacando que apenas um acompanhamento de um profissional especializado favorece a expressão da subjetividade - e essa compreensão, subjacente às oficinas por ela ministradas, constitui um diferencial importante em suas aulas.
Eu super recomendo, ela é DEMAIS !
Tive a honra de conhecer essa jóia de pessoa, há dez anos atrás,
em seu ateliê em São Paulo. Ela é bordadeira e é psicóloga clínica,
psicanalista e mestre em Psicologia Clínica pela USP, que ensina bordado
contemporâneo em seu ateliê Bordados etc. e tal.
Sua formação faz toda a diferença na arte de bordar e nos fazer sonhar.
Rosa Jacob
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Pernas, para que te quero? Título do livro do Grupo
Ciranda das Bordadeiras, organizado pela Jaci
Ferreira. Um livro lindo!
Só depois do dia acabado, sentei no sofá, coloquei as
pernas para cima, peguei o lindo livro que ganhei ontem. “Pernas, para que te
quero? Organizado pela Jaci que está entre as bordadeiras que fizeram as
ilustrações, respondendo poeticamente à pergunta do título.
Um livro que merece ficar exposto, pela casa, pelo ambiente de trabalho, para que se possa sempre abrir, acariciar e se inspirar. Primorosos são os desenhos, os bordados, a fotografia e a composição gráfica. Sabendo de todas as dificuldades para se fazer um livro nesse país, posso afirmar que é também um livro heróico.
Os trabalhos estão ali na impressão primorosa no papel. Mas, ao observar cada bordado, fiquei imaginando a pessoa por trás dele. Os pontos que teceu em silêncio e os pontos que teceu cantando a canção favorita. O ritmo do corpo, quando sorriu para o resultado. Quando quase vencida pelo cansaço, insistiu em mais um pontinho. Quando suspirou de satisfação e, quando, por tamanho enlevo, espetou o dedo na agulha. Rsrsr
Um livro que merece ficar exposto, pela casa, pelo ambiente de trabalho, para que se possa sempre abrir, acariciar e se inspirar. Primorosos são os desenhos, os bordados, a fotografia e a composição gráfica. Sabendo de todas as dificuldades para se fazer um livro nesse país, posso afirmar que é também um livro heróico.
Os trabalhos estão ali na impressão primorosa no papel. Mas, ao observar cada bordado, fiquei imaginando a pessoa por trás dele. Os pontos que teceu em silêncio e os pontos que teceu cantando a canção favorita. O ritmo do corpo, quando sorriu para o resultado. Quando quase vencida pelo cansaço, insistiu em mais um pontinho. Quando suspirou de satisfação e, quando, por tamanho enlevo, espetou o dedo na agulha. Rsrsr
Parabéns a todas vocês que produziram esse livro incrível, que
entrelaçam a vida em cada ponto ou em cada intervalo entre eles. Quando acabei
de olhar e ver cada detalhes, confesso que fui lá fora procurar estrelas no
céu. MC
Jaci
Ferreira, obrigada pela dedicatória, por me fazer sua parceira em fazer o
mundo mais habitável.
Maria Cininha
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Olá Jaci, Acabo
de folhear "Pernas, para que te quero?". Estou encantada com a
proposta do livro, ilustrações e resultado das bordadeiras. De uma força e ao
mesmo tempo, uma suavidade... Meus parabéns por esse trabalho tão lindo e
importante para as relações pessoais e abrigo de sentimentos. Às bordadeiras só
elogios pela riqueza de detalhes e singeleza valorizando as ilustrações.
Imagino o orgulho que elas sentiram ao folhear e se perceberem em de cada uma
das páginas. Nos idos jovem abracei a psicologia, não conclui, fui até o 7°
semestre, mas o quase curso acompanha meu olhar para as vivências com o outro e
do outro. Foi o que mais me encantou no projeto: esse viés de identidade, de
pertencimento, de olhar ao redor e se reconhecer, reconectar propósitos, sonhar.
Só posso agradecer por ter a obra em minhas mãos. Sucesso e que muitos outros
projetos surjam. Um abraço carinhoso a todos.
Jane Cardoso
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Chegou adiantado meu presente de aniversário!Direto do Ateliê Bordados etc e tal de Jaci Ferreira de SP.Grupo Ciranda Bordadeira é mesmo espetacular.Tudo muito lindo e bem projetado com destaque especial ao livro Pernas prá q te
quero. O Arte Sana indica naturalmente. Parabéns, vcs nos inspiram sempre. Parabéns Jaci Ferreira!Valeu mana Therezinha Marcos Telles Westin.
Beatriz Telles
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Chegou adiantado meu presente de aniversário!Direto do Ateliê Bordados etc e tal de Jaci Ferreira de SP.Grupo Ciranda Bordadeira é mesmo espetacular.Tudo muito lindo e bem projetado com destaque especial ao livro Pernas prá q te
quero. O Arte Sana indica naturalmente. Parabéns, vcs nos inspiram sempre. Parabéns Jaci Ferreira!Valeu mana Therezinha Marcos Telles Westin.
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Exposição Felicidade
Desde que recebi o convite para participar do 2º Quilt & Craft Show com o tema Felicidade, imaginei que a tarefa seria árdua, essencialmente em função do desafio de transformar algo tão subjetivo numa imagem que a partir do primeiro olhar evocasse esse sentimento no expectador. Superada essa primeira dificuldade pensei que do próprio tema derivaria certa uniformidade de expressão com formas, cores e texturas harmônicas que propiciassem sensações de conforto e bem-estar e, além disso, suscitasse no público percepções análogas provenientes de suas próprias memórias.
O que eu não considerei, porém, foi o óbvio: quando se trata de subjetividade humana e da complexa trama da qual é constituída, é impossível prever o estilo de cada um, o tipo de reação que deseja provocar e menos ainda qual imagem elegerá para representar seu cenário afetivo. E essa constatação resultou na necessidade de lidar com concepções bastante diversas das que eu imaginara no início e que, afinal, pertenciam à minha própria cadeia associativa.
A diversidade e a riqueza da alma humana mostraram sua face, forçando-me a garimpar a felicidade nos traços e nuances mais inesperados: em arestas pontiagudas e contornos nebulosos, em tons agressivos e imagens inquietantes, em cavidades que evocavam fantasias primitivas. Foi difícil localizá-la nesses desvãos, posto que a todo momento ela insistia em me chamar para terrenos mais familiares nos quais podia ser facilmente identificada... Na cachoeira descendo por uma encosta, nas crianças empinando pipa, nos cachorros ao redor de seus donos, nas lembranças que uma viagem deixou, nos registros domésticos e acolhedores, em viagens que o universo literário propicia e até mesmo num arco-íris contra um céu tempestuoso. E ainda nas fascinantes equilibristas concentradas em manter a felicidade em suas mãos, a despeito dos revezes cotidianos.
Somado a tudo isso o prazer de evocar com linhas e texturas, no trabalho em parceria com Vilma, a magia de contos que me enlevaram na infância.
Jornada finda resta o aprendizado de que a criatividade não tem mesmo limites e a arte pode ser expressa de múltiplas maneiras. Porém, o livre-arbítrio nos possibilita escolher com o que desejamos abastecer nosso mundo interno. Eu fico com Dostoievski: a beleza salvará o mundo.
Jaci Ferreira
Coordenadora do grupo Ciranda Bordadeira
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Ana Flávia Medina
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Ana Silvia Loureiro
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Luciana Bravo
Vilma Simas
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Jaci Ferreira/Vilma Simas
Capa do Trabalho
O conceito inicial deste trabalho foi elaborado por Olinda (SC) e Vilma (SP). Contudo, em função das dificuldades que a distância impunha, Olinda optou por realizar seu bordado sozinha.
A concepção do projeto e o tempo disponível para sua execução eram incompatíveis com uma feitura individual. Foi então que embarquei nesta felicidade alheia e, aos poucos, ingressei na atmosfera por elas imaginada.
A tarefa – à primeira vista gigantesca – foi facilitada pela longa convivência com Vilma nas aulas em meu ateliê, possibilitando que entrássemos rapidamente em sintonia. Alguns ajustes foram realizados no esboço original para que a cria tivesse a nossa cara. Dando asas à imaginação, trouxemos à luz o universo mágico que permeia toda a infância e que representa, para nós, essa tal de Dona Felicidade.
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Adriana Lis Bellinello
Adriana Lis Bellinello
Foi dado o tema para a nossa nova “empreitada”, a Felicidade. Quando se pronuncia esta palavra, achamos que sabemos o que é, o seu real significado, mas mesmo assim busquei no dicionário antes de começar o meu trabalho.
Significado de felicidade: 1. Estado de quem é feliz; 2. Ventura; 3. Bem estar e contentamento; 4. Bom resultado e bom êxito.
Com essa informação, percebi que estar com os meus três filhos é o meu estado de felicidade. E aí dei início ao desenho dos meus pequenos em situações marcantes de suas infâncias. Ao principiá-lo, porém, comecei a lembrar de momentos que estavam esquecidos na minha mente e no meu coração. Períodos agradáveis da minha própria meninice que se assemelhavam com a infância deles. E com isso surgiram no bordado os animais, as plantas e o perfume de algumas delas, a bicicleta e o brasão de família.
Hoje os meus filhos já são crescidos. O Gustavo com 19 anos, Giovanna Lis com 15 anos, e Carolinna Lis com 13 anos. E posso dizer com muita felicidade que eles são o meu maior tesouro. E agradeço por tê-los em minha vida.
Agostinha Hashimoto/Jaci Ferreira
Agostinha recebeu o convite para participar, junto com o grupo Ciranda Bordadeira, do 2º Quilt & Craft Show com o tema Felicidade, em meio a um processo de luto. Num esforço, procurou em sua memória uma imagem que pudesse traduzir esse sentimento e, dentre seus guardados, encontrou uma fotografia da entrada de sua chácara, recanto no qual desfrutou, com a família, de momentos verdadeiramente felizes.
Apesar do tempo exíguo e da situação adversa, se empenhou para transpor para o tecido as cores e texturas daquele espaço, talvez até como uma forma de se organizar internamente e alimentar a alma com registros afetivos significativos.
Nem tudo foi felicidade, porém. Neste ínterim, sobreveio mais uma doença em família. A necessidade de se dedicar ao cuidado deste ente querido demandou tanto que não sobrava tempo nem disponibilidade para prosseguir no trabalho. A angústia decorrente da necessidade de honrar o compromisso assumido e a absoluta incapacidade de mantê-lo paralisou-a durante dias. Foi quando, num telefonema entre nós, se reproduziu a experiência descrita por Clarice Lispector em um de seus contos intitulado Uma experiência no qual, em um trecho, ela diz: “Talvez seja uma das experiências humanas e animais mais importantes. A de pedir socorro e, por pura bondade e compreensão do outro, o socorro ser dado. Talvez valha a pena ter nascido para que um dia mudamente se implore e mudamente se receba. Eu já pedi socorro. E não me foi negado”.
Imbuída desta percepção, assumi o projeto e rematei os fios desta felicidade momentaneamente turvada pela tristeza. O que era um trabalho individual passou a ser criação conjunta. Vê-la assim, emoldurada, suavizou a dor de mais uma perda. E ao testemunhar a emoção de Agostinha, esta felicidade se tornou minha também.
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Ana Flávia Medina
A felicidade está no alívio da dor através da arte. Inspirada neste mote resolvi bordar o processo que uma amiga estava vivendo lutando contra sua endometriose profunda. Na primeira vez que vi a pintura de Helô, que exorcizava sua dor e todos os medos por trás desta doença terrível, vislumbrei que aquela coragem de pintar suas entranhas era a expressão máxima de uma atitude de felicidade. Como passei pelas agruras da mesma doença, conheço na carne o poder de abalo moral desta patologia.
Acompanhando a luta de Helô para combater o mal pelo qual estava passando, resolvi me juntar a ela nesta batalha acreditando no real poder curativo da alma através da arte.
Surgiu então "Um Olhar Interior", uma construção através de linhas e texturas da visão interior de Helô Weber sobre seu corpo. O bordado será parte de seu acervo de obras sobre este momento tão especial quanto crítico de sua vida.
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Ana Silvia Loureiro
Bia Coutinho
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Fulvia Cristiano
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Luciana Spina
Literalmente fiquei FELIZ com o resultado deste trabalho e compartilhei esta felicidade com minha família que me acompanhou a cada ponto finalizado.
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Mieko Makino
1. A equilibrista
2. Malabaris
Talita Ribeiro
Ana Silvia Loureiro
A Imagem: pessoas, momentos, lugares, palavras,
gestos, cheiros, sabores, sons... Uma infinidade de possibilidades de bordar a
Felicidade. A escolha pela imagem de uma árvore, em especial a Barriguda que
tive a oportunidade de conhecer no estado de Goiás, representa aspectos
marcantes do que me faz feliz na vida. Uma árvore imersa num cenário de cores
do cerrado, cujo tronco apresenta a forma de uma barriga como se estivesse
gestante e com seus galhos e flores delicadas que se projetam no espaço
sugerindo movimento, como uma dança.
Tingimento do tecido: com o apoio de uma
fotografia para pintar o tecido, tive a experiência de transportar-me através
da memória para o momento em que a vi diante dos olhos e assim procurei
reproduzir as diferentes nuances de cores que constituíam o seu cenário.
O bordado: o início de tudo ocorreu pelo tronco. Cercado
de observação, cuidado e paciência era necessário variar o uso dos pontos para
proporcionar o aspecto rugoso do mesmo, além de mesclar as cores respeitando as
variações existentes. No começo, como surgiam apenas linhas era difícil ter a
noção do todo e saber se estava alcançando meu objetivo. Passaram-se dias para
que esse tronco se formasse de fato... Depois vieram as raízes, galhos e
flores. E por último veio o preenchimento do centro do tronco, sua “barriga”, onde
a correntinha através de um movimento lento, delicado e em espiral preencheu e
finalizou a imagem de minha Felicidade. A Barriguda, com sua presença de tirar
o fôlego...
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Bia Coutinho
A felicidade pode acontecer de muitas maneiras, a minha veio misturada com ansiedade, insegurança e alguma raiva. Ansiedade porque via o tempo passar e o bordado não render, insegurança porque via a obra das outras talentosas bordadeiras e comparava com a minha, e raiva porque não podia me dedicar integralmente ao meu amado bordado, minha vida real não permite. Tudo, porém, é ação e reação, no final percebi que a minha felicidade está aí, em projetar e realizar a beleza através das linhas.
E quando tudo ficou pronto, isto é, quando o prazo acabou e dei por terminado o trabalho, vi todas as obras reunidas e emolduradas. Cada uma delas tem sua beleza própria e um pouco da personalidade da sua autora. A minha também.
Não era a mais bonita, nem a mais original, nem a mais elaborada, mas ela tem a sua graça, e tem um pouco de mim, e todas têm um pouco da nossa mentora.
Como sempre, o conjunto tem uma beleza gigantesca, em cada um se vê o melhor de sua autora.
Foi mesmo uma felicidade!
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Chiara Viscomi
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Chiara Viscomi
Eu tenho
sete dias na semana. Ela tem renda e prosa. Eu tenho lembranças de um tempo
esquecido. Ela tem caprichos. Eu tenho anseios de agora. Ela tem segredos
de outrora. Eu fui feita a máquina. Ela foi feita a mão. Eu tenho
liberdade. Ela tem sensibilidade. Eu tenho duvidas. Ela tem vivência.
Ela, essa
tal felicidade… que é perseguida incessantemente, está nas pequenas coisas do
dia-dia feminino que virou memória; memória que desejava chegar, memória que
deseja agora voltar. Entre linhas, agulhas, metais e outros materiais foi
possível voltar ao passado, imaginar o cotidiano de mulheres comuns que
sonhavam em conquistar e querer um futuro regresso.
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Daniella Michelin
Missão: Bordar a Felicidade. Uma palavra tão comum, mas tão difícil de definir, seja com palavras ou com agulhas e linhas. Criar o risco do bordado consumiu o mesmo tempo e esforço que o bordar em si. Foi um exercicio que me fez examinar o mundo ao meu redor e considerar o que é a felicidade universal. Identifiquei os elementos da minha vida que me trazem alegria: a natureza, os animais, a água corrente, meu amor, minha família, o brilho do sol, o reflexo da lua, a esperança de um filho, o amor incondicional da minha cadela Sushi, montanhas que escondem o amanhã, e o ar que, a cada segundo, me lembra de que sou parte do todo, inspirando e expirando, aqui e agora. Concluí que a felicidade não é um estado de espírito, mas sim uma escolha. E bordei num ato de desafio. Bordei intensamente, ponto a ponto a minha escolha pela felicidade, apesar da tristeza que, se permitirmos, pode mudar as matizes da nossa vida e nos impedir de ver as linhas como elas realmente são...coloridas possibilidades.
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Fulvia Cristiano
Manter viva a nossa Ciranda Bordadeira, com esse trabalho, foi poder me
expressar mais uma vez por linhas, pontos, cores e texturas, transformando uma
ideia em algo (acho eu) belo. Quando soube qual era o tema – Felicidade –, me
senti bastante desafiada. Afinal, o que é felicidade?
A escolha da Colombina foi um “presente” ao meu marido, que gosta da
figura do Arlequim. Por que não fazer a mulher apaixonada por Arlequim, como eu
apaixonada por ele? E, como eu ADORO cores, nada melhor que a Colombina para
poder usar todas e quantas eu quisesse – isso sim me faz feliz! Bem como me fez
feliz cada troca de experiências com as “artistas da felicidade” dessa Ciranda:
ouvir opiniões, compartilhar receios e conquistas, ver cada trabalho – e cada
felicidade – se concretizando em uma coletânea de obras de arte! Trabalho
pronto, espero que desperte nos observadores o sentimento tão repetido nesse
texto: felicidade!
Jaqueline Leff
Como representar a felicidade em bordado?
Foi tentando encontrar este significado que me questionei: quando me sinto feliz? Porque? Onde? Com quem? A partir deste mergulho interior encontrei minha resposta: me sinto feliz junto a minha família. Pronto. Tinha escolhido meu tema.
Marco, meu companheiro e amigo de todas as horas, sempre ao meu lado. Clara, a mais velha. Com ela aprendi a ser mãe. Ana, a mais nova. Nosso anjinho, sempre alegre.
Com eles me sinto completa. Compreendida. Amada. Ao lado deles eu posso dar o melhor de mim: o amor incondicional.
Fiz nosso retrato monocromático como um “desenho a lápis”, de uma forma mais realista. O colorido, este, nós vamos pincelando juntos, no dia-a-dia.
Minha família tem muitos pontos. Estes fazem sua textura. Também tem muitos nós. Mas acima de tudo, minha família tem muitos laços. Laços de amor.
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Lucia Higuchi
Meu trabalho como artista plástica é antigo,
sou arquiteta de formação e o desenho sempre esteve presente no meu dia a dia. Em
meus trabalhos busco traduzir experiências vividas, cenas do cotidiano que
marcaram meu olhar seja em giz pastel,
batik, feltragem ou, mais recentemente, com o bordado. Para participar da
mostra de Curitiba escolhi uma cena que presenciei em Miami no ano de 2011
minutos antes de uma tempestade. Para mim foi uma grande felicidade presenciar um momento delicado e ao mesmo
tempo brutal da natureza; até as aves vieram ao chão aguardando o desenlace da
tormenta. A experiência de representá-lo com os fios das linhas e a agulha foi
incrível, representar ponto a ponto as cores e a luz, foi um ensinamento de paciência,
perseverança e observação. Este é o meu primeiro trabalho nesta técnica e minha
orientadora Jaci foi pacientemente me encaminhando. Estou muito satisfeita com
o resultado e estou pronta para novos desafios na arte do bordado.
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Lucia Schwery
Bordar é um ato mecânico, mas requer, ao mesmo tempo,
sensibilidade para misturar cores, fios pontos e texturas.
O estilo naïf da pintora Pilar Sala identifica-se
muito com o tipo de bordado que adoro fazer: tudo muito pequeno, repleto de
detalhes.
Desta vez o desafio maior foi selecionar os pontos para a execução
das arvores, pois a ideia foi fazer uma diferente da outra.
Acho que, em relação ao jardim, milhares de nós com linhas
multicoloridas resultaram num efeito bastante interessante.
Recorri a outros materiais, tais como fitas de seda, tecidos,
organza, etc...com a intenção de obter diferentes resultados.
Minha felicidade foi conseguir atingir o objetivo a que me propus.
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Luciana Bravo
Para mim, ser feliz é me sentir plena, completa, é conviver com todas as imperfeições que a vida nos apresenta e, ainda assim, estar em paz com o mundo e comigo mesma.
Ao saber que o meu próximo trabalho seria sobre o tema Felicidade, pensei que bordar, por si só, já é viver um momento de felicidade. É traçar, trançar e trazer à vida algo que, até então, estava apenas na minha imaginação. Devagar, ponto por ponto, com muito prazer. É como gestar, dar à luz e alimentar um novo rebento. Daí para achar uma imagem que traduzisse este sentimento foi muito simples: a maternidade e o ato de amamentar, sem dúvida alguma!
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Luciana Spina
Olhar a calmaria do horizonte, numa bela montanha com vários tons de verdes e flores, crianças brincando, o mar azul e um imenso céu, esta foi a maneira que encontrei para expressar minha felicidade.
Felicidade maior ainda é bordar. Embora com pouca idade um dos maiores prazeres que encontrei no último ano foi aprender que cada ponto dado, o encontro das linhas e as curvas de cada desenho se transformam em delicados trabalhos.
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Maria Lúcia Ciampolini
A felicidade vibra nas coisas mais simples; no sorriso dos filhos, numa flor desabrochando, em um abraço de verdade, na inocência de um bebê, em uma música que cala fundo em nossas almas amaciando nosso coração, acendendo o riso e convidando a alma pra se divertir.
Essas pequenas artes bordadas com fios de luz no tecido tem sido uma experiência incrível.
É encantador mergulhar neste universo das linhas, pontos e cores, tecendo artes dia a dia e superar dificuldades internas com fios coloridos e com o convívio de pessoas fantásticas é maravilhoso!
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Maria Alice Teixeira Soares
Bastante difícil e subjetivo interpretar a felicidade por meio de linhas, agulhas e imaginação, mas entre conversas e risadas de todas nós bordadeiras reunidas, surgiu de dentro de mim um jardim secreto e nele, a lua e seus miasmas lunares, o sol e seus ventos solares e a constelação inteirinha das Plêiades em profusão de estrelas tão distantes. Como dizia Antonio Machado, “caminante no hay camino, se hace el camino al andar”. E lá vou eu navegando no caudaloso das águas deste rio...
Sem perceber, aqui está resumida, apenas apontada, a minha Feliz Idade. Marco de onde me encontro hoje em dia, não deixando de lado – claro – os fugazes e momentâneos períodos de felicidade vida afora...
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Mieko Makino
Foi um grande desafio criar um trabalho envolvendo o tema “Felicidade” em um espaço de tempo definido. Durante este processo relembrei de muitos momentos bons, engraçados e até tristes da minha vida. Momentos da minha infância, da infância dos meus filhos e da vida de meus pais, tudo relacionado aos que fizeram e fazem parte da minha vida.
Usei pontos simples e fáceis, sem complicação, pois assim cada cena bordada aparecia no tecido com prazer e leveza.
Procurei através deste trabalho transmitir uma sensação alegre, descontraída e divertida do que considero felicidade e a simplicidade dos momentos em que ela pode ser encontrada.
Olinda Evangelista
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Olinda Evangelista
A proposta de bordar “felicidade”,
apresentada pela Jaci ao nosso grupo – Ciranda
Bordadeira – caiu sobre mim como um desafio irrealizável. Menos pelo que
significaria de bordado ou tempo, mais pelo sentido a ser atribuído à palavra
por meio do bordado. Quanto mais pensava, menos via uma imagem bordável. Vilma
e eu falamos muito sobre o tema... E rimos muito também em razão das conclusões
a que íamos chegando sobre a felicidade e a vida... Ora pensávamos sobre a
felicidade no sentido positivo: o que ela era. Ora a pensávamos em seu sentido
negativo: o que ela não era. Ideias muito estapafúrdias nos vieram à mente.
Demoramos a achar o “ponto certo” do bordado. Íamos fazê-lo juntas. Por impedimentos
meus, fizemos separadas. Vilma e Jaci juntaram seus pontos e linhas e eu bordei
o meu... O lindo dessa história foi que as nossas felicidades se encontraram,
pois, em nossos panos e com nossos fios, bordamos as nossas pequenas
felicidades...
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Regina Melo
Ao iniciar o trabalho, veio a minha mente algo que me faz feliz e uma das coisas é observar. Observar o que está ao meu redor, parar em um lugar movimentado como à Avenida Paulista, um shopping ou um parque. Ver cada um com olhar diferente, pois o movimento do lugar e das pessoas que estão neles é diferente, mas cada um tem a sua energia: é a vida passando diante dos nossos olhos, às vezes passamos no mesmo lugar no mesmo dia ou minutos depois e já não é igual, algo se modificou.
Assim foi com o meu bordado e tudo que estava à volta dele: as exigências, a professora, a curadoria, a responsabilidade, as colegas de aula, a minha família, eu e as minhas observações.
E cada uma das citações que fiz agora, faz aflorar os sentimentos de cada dia, as surpresas boas e ruins, as alegrias e as decepções.
Ao chegar ao final e ver minha obra concluída, os detalhes, as linhas e suas cores, o tema escolhido e a clareza da sua beleza, me fez feliz. Ao observar delicadamente dentro de nós, a felicidade está nas coisas mais simples da vida. Mas quando há algo que nos encanta, ficar contemplando-a é a felicidade.
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Rosângela Barbosa
Entre outras felicidades que tenho, escolhi essa imagem para participar da exposição em Curitiba porque representa a felicidade que encontro na elaboração de um bordado, desde o momento do desenho, passando pela pintura do tecido e, por fim, bordando e experimentando técnicas e pontos. Ela representa as asas da imaginação.
Foi inspirada em Little Wing (1967), música de Jimi Hendrix, onde “Ela” passeia pelo circo da mente entre borboletas, vaga lumes e contos de fadas voando com sua pequena asa. A minha Little Wing passeia pelo mundo das possibilidades entre os tecidos e as linhas.
Não podendo ser diferente, foi um trabalho permeado pela felicidade de se fazer o que se gosta.
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Suely Galli
1. A equilibrista
Desenho de criação própria com o objetivo de traduzir “felicidade” no universo que mista o fantástico e o realista, Equilibrista retrata a busca da realização de sonhos, alimentados pelos desejos. Encontra e lança de dentro de si, o fio por onde percorre equilibrando-se, revelando de onde vêm as atitudes, o caminho e as respostas.
A composição de desenho, bordado, intervenção de tecido aquarelado e instalação da barra de cobre, o trabalho mostra seu caráter experimentalista, associando criação e pesquisa na arte em tecido, vivência que consolida nossa busca e necessidade da arte como incitadora do novo, do diferente e ideal. A arte desmaquiniza e relembra o homem sobre sua humanidade.
Desenho de criação própria com o objetivo de retratar “felicidade” num universo fantástico e cenário da realidade urbana atual, com seus quase totais impedimentos de se ser feliz. A personagem faz, com os elementos que possui dentro de si, construídos das experiências cotidianas, o malabarismo com as possibilidades de posicionar, no centro e acima das próprias ideias, a própria felicidade.
Desenhar, aquarelar e bordar Malabaris nos fez também malabarista da arte em tecido, experimento que monopolizou-nos a inspiração. Com Malabaris vagamos entre alegria e dor, esperança e descrença; brincamos com letras e palavras: paixão predileta; testamos materiais e texturas, furamos sangrando o desorientado dedo indicador; viramo-nos ao avesso e a encontramos lá: a felicidade!
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Suiang Guerreiro
As palavras nem sempre conseguem traduzir com fidelidade esse estado de espírito pra lá de gostoso. Mas os motivos que me deixam feliz costumam ser os mais simples possíveis. Um sorriso, uma flor, uma conversa, um encontro com uma amiga, uma comida diferente, tudo isso me leva à felicidade.
Por isso decidi levar ao linho e às agulhas minha felicidade na leitura de livros. Eles me levam a épocas e lugares distantes, me fazem íntima de personagens e autores, e me proporcionam momentos de puro êxtase. É impressionante como a imaginação e a linguagem podem me surpreender.
Bordar essa minha felicidade foi um exercício interessante – na busca de imagens, de pontos que as completassem e, principalmente, na procura pela linha dourada (uma epopeia!).
O grupo Ciranda Bordadeira, composto por mulheres tão distintas, está me proporcionando uma vivência rica e diversificada, e por isso gratificante para meu longo aprendizado na arte de bordar.
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Talita Ribeiro
Comecei este trabalho pela pintura, na esperança de que ela me inspirasse. “Joguei” umas pinceladas no ar para que a tinta caísse aleatoriamente, quase que num jogo de azar: e deu azar! Não gostei da combinação de cores que fiz. Mas ela estava feita e agora eu teria que aprender a amá-la.
Briguei com meu trabalho por diversos dias, sem saber por onde começar. Então, voltando à ideia original, resolvi obedecer aos caminhos da tinta e caseei à volta da área verde e da lilás. Gostei do resultado. Ficaram áreas em destaque.
Aos poucos foram surgindo “vontades” de bordar aqui com tal ponto, ali com outro, até chegar num último problema: o linho que usei não tinha a medida exigida. Caseá-lo num outro tecido foi a solução encontrada.
Por que FELICIDADE? Porque, como sempre, o bordado nos traz metáforas da própria vida, e o quê é a vida feliz senão abraçar o que ela nos apresenta, viver a situação da melhor forma possível e gostar do que se experimentou?
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Vera Simonetti
Que momentos felizes eu poderia colocar no tecido? Entre tantos, quais os preferidos? Escolher já seria uma tarefa prazerosa. Só relembrar as cenas e os cenários de momentos felizes, os sentimentos, os cheiros, sons, cores, as pessoas, os momentos de grandes e pequenas felicidades, que coisa boa!
Um cenário natural sempre me faz olhar a vida com mais gosto. Se volto a um lugar como esse, quero ver como aquela árvore está, espero ansiosa por aquele campo de lírios que começou a florir na época certa, em que lugar mesmo vi a trepadeira amarela? E a mini-orquídea naquele tronco de árvore, será que resistiu ao tempo?
Estar nesses lugares com pessoas queridas, nem se fale. Andar na beira do rio com as crianças e suas vozes deliciosas, deixar a pele sentir o sol, dar um beijo na pessoa amada, parar pra dar um mergulho no laguinho da curva do rio, descansar sob as árvores... Bordar/tecer esta felicidade foi uma felicidade, também.
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EXPOSIÇÃO BORDANDO OS SETE - 2012
Adriana Lis Bellinello
Quando fui convidada a
participar do grupo Bordando os Sete fiquei
muito feliz, pois me senti uma pessoa importante e que a minha querida
professora Jaci confiava em minha capacidade de participar deste projeto.
Depois caí na realidade e comecei a ficar angustiada. O temor começou em
relação à escolha do artista, em seguida se estendeu ao tipo do tecido e as
quais seriam as cores de fundo e, afinal, influenciou até mesmo o tipo de linha
a ser utilizada no bordado. Em alguns momentos, com o término do prazo se
aproximando, beirei o desespero.
A despeito de todas as
incertezas, contudo, o bordado foi criando vida. E com ele, aos poucos, se
originava uma família unida, em que cada uma dava palpite nos trabalhos alheios
e acatávamos as sugestões de bom grado. Este trabalho foi o primeiro de uma
série de muitos e me sinto lisonjeada por participar de um grupo coeso, alegre
e com um objetivo comum, de mostrar quão belo é o bordado e quão bonita é a
união de pessoas que se ligaram por um fio de linha, mas souberam, com ele,
constituir uma forte trama, que originou o grupo Ciranda Bordadeira.
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Agostinha Hashimoto
Bordar. Para mim é poder retornar às origens. O
contato com as linhas, tecidos e agulha acionam como que uma máquina do tempo,
que transporta meu coração para a casa de minha avó paterna. Lá, na sala
principal de uma casa rural, cercada por cafezais e canaviais, se reuniam as
grandes mulheres de minha infância – mãe, avó, tias. Da magia de suas mãos
surgiam bordaduras maravilhosas aos meus olhos de criança. Pássaros encantados,
paisagens bucólicas, flores imaculadas enfeitando roupinhas de batizado do mais
novo bebê da família ou apenas uma simples frase para enfeitar uma parede e
garantir que “Deus protege esta casa”.
Meu contato com o bordado, hoje, quando a última
dessas “grandes mulheres” – minha mãe – acaba de partir, tem me ajudado a unir
os fios do presente e do passado na busca de uma tessitura para o aconchego
perdido. E as mulheres solidárias com quem compartilhei este projeto para a
exposição Bordando os Sete,
contribuíram generosamente para este meu processo.
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Ana Flávia Medina
Bordar para mim foi uma revelação. Quando
comecei, há alguns meses atrás, jamais pensei que algo profundo se revelaria em
mim.
O domínio da luz e da sombra eram coisas mágicas
inacessíveis para mim. Por muito tempo me contentei em editar imagens que
estavam criadas, dando asas à minha imaginação e senso estético.
Qual não foi a minha surpresa quando resolvi
bordar uma figura de um Chef no caderno "Receitas do Coração" que fiz
de presente para o meu filho. O tal Chef tinha umas dobrinhas, a imagem tinha
movimento e era uma gravura nunca pensada para bordado. Neste momento de
desafio comecei a dominar as façanhas de dar vida àquele pedaço de linho
"mal" desenhado por mim mesma a lápis. Ao fim da obra o sentimento de
"eu posso" foi total!
Chamada para participar do novo desafio de
bordar uma tela de um pintor famoso, não tive dúvida. Adoro a obra de Van Gogh,
posso dizer que é o meu favorito entre os impressionistas.
Bordar o "Quarto" dele foi uma espécie
de imersão na intimidade do pintor, para um fã isso não tem preço. Escolhi com
cuidado a textura da roupa de cama, as imagens dos quadros na parede, a
perfumaria que estava em sua mesa de toalete, ou seja, tentei reproduzir com
cuidado e carinho aquele espaço que acolheu uma figura tão genial e ao mesmo
tempo tão conturbada. Foi como uma viagem ao interior de sua alma.
No momento em que entreguei o bordado me senti
órfã. E agora qual será o próximo
mergulho promovido pelas linhas e agulha?
Ana Silvia Loureiro
A
exposição Bordando os Sete surgiu
como um desafio, afinal só havia concluído um trabalho até o momento e os que
estavam em andamento sempre me faziam solicitar muito a orientação da
professora. Assim que aceitei participar os sentimentos começaram a brotar.
Friozinho na barriga, euforia, ansiedade... E uma pergunta interior: como faço
uso de tudo o que aprendi até agora? Não sei escolher os pontos, as cores...
O início
foi difícil. Mão dura, pontos que não me agradavam e um bordar e desmanchar sem
fim. Fiquei tensa. Cheguei a pensar em desistir. Foi então que lembrei das
oficinas e naturalmente me transportei para aquele clima de conversas e
convivência tão agradáveis e essenciais. Senti-me acompanhada. E o bordado
começou a fluir... Fui adquirindo confiança, me emocionando por encontrar as
soluções para o bordado e desejando muito vê-lo finalizado.
Hoje,
com o trabalho concluído, olho para ele e sinto-o vivo.
Sou
imensamente grata por ter vivido esse aprendizado e conhecido pessoas lindas no
caminho.
Bia Coutinho
Minha
história com o bordado é, no mínimo, diferente. Aprendi a bordar muito menina,
com cinco ou seis anos, com minha avó, que me dava paninhos, que viravam
enxoval de boneca, para bordar motivos bem singelos e coloridos. Lembro que era
uma atividade que me cativava e aqueles paninhos me acompanharam na infância,
enquanto brinquei de boneca, o que foi por muito tempo. Minha avó infelizmente
não durou tanto, morreu quando eu estava com nove anos e nunca mais bordei. Nunca
mais até ver um bordado da Jaci, tempos atrás...
Então
tudo recomeçou e junto veio o relacionamento com uma porção de gente de alma
diferente e as almas são sempre reveladas nos pontos mais bonitos, nas idéias que
se expõe nos bordados que aparecem em simples paninhos e que
bem poderiam ser enxoval de boneca.
Participar
dessa exposição com eméritas bordadeiras foi mais que uma honra, foi ter de
novo seis anos e aprender uma coisa mais bonita: que criar beleza faz o
espírito progredir, produz felicidade.
Então
foi isso, fui mais feliz.
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Chiara Viscomi
Há quem me chame de velha
por bordar, há quem não entenda as razões pelas quais faço isso, há quem não dê
valor a estes trabalhos, há quem apenas veja, mas não enxergue sua essência...
Nos dias de hoje, bordar já
não é mais uma obrigação das mulheres ou uma disciplina escolar. Bordar é um
dom que herdei das mãos magras e vividas de queridas mulheres que deram graça às
suas vidas com flores de delicados pontos e barrados de capricho. Este dom
ultrapassa o manuseio dos tecidos e das linhas, ele proporciona a construção de
idéias, o entendimento de sentimentos, a fluidez da imaginação, o encontro de
mulheres diversas despidas de qualquer forma de julgamento, a experiência, a
superação.
Um trabalho introspectivo
que faz parte de um todo que se dissipa no mistério do seu sentimento.
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Daniella Michelin
Quem mexeu no meu vaso? O bordar da obra de Matisse, Interieur rouge, nature morte sur table bleue
(Interior vermelho, natureza morta
sobre mesa azul) foi um processo de descobrimento. Ao transformar aquelas
imagens de cores agressivas e traços infantis em uma mistura de panos, fitas e
linhas, embrenhei-me nas sutilezas da obra e descobri, com algum espanto, que o
que à primeira vista parece uma pintura feita rapidamente de forma displicente
é uma ciência exata e precisa.
Como um móbile, que apesar de seus
componentes de formas incongruentes, mantém-se em perfeito equilíbrio flutuando
no ar, as formas de Matisse coexistem em sua obra em perfeita harmonia. A dança
que se realiza entre o retângulo da janela, o oval da mesa, o esguio do vaso e
o círculo do medalhão é perfeita. A casualidade
de emprego de cada um desses objetos é pura ilusão. Experimente cobrir com as
mãos qualquer um deles. Comece pelo menos óbvio: o medalhão. Perceba a falta
que ele faz, o vazio que sua ausência cria. Faça o mesmo para os demais. Viu?
Sentiu? E isso não vale só para as
formas. Minhas linhas pretas estavam praticamente intocadas antes de eu começar
esse bordado. Com a exceção de pequenas pupilas, eu nunca tivera a ousadia de
empregar e muito menos “carregar” a mão nessa cor tão...tão absoluta. E o que seria
da composição sem o preto? E sem o vermelho intenso, o amarelo-gema e as várias
tonalidades de azul respingadas de branco? Tudo interage, tudo compõe, tudo
precisa estar. É inevitável.
Essa exatidão de formas, cores e disposição
levou-me a batizar meu bordado de Qui a
bougé mon vase?, em português, Quem
mexeu no meu vaso?. O vaso azul e branco é o elemento do bordado que mais se
distancia, em termos de formato e posição do original a óleo. Tendo sentido ao
longo do trabalho o nível de precisão empregado por Matisse ao compor sua
pintura, tive a impressão que o mesmo teria me censurado por interferir no equilíbrio
perfeito dos elementos da sua obra. Qui a
bougé mon vase? seria uma frase vinda do próprio pintor, dirigida a mim, a
bordadeira. Não tive que pensar para desenvolvê-la, ela brotou naturalmente. Considerei
escrevê-la em ponto atrás, no próprio bordado, para dar um toque de humor à
minha obra, mas acho que isso levaria a outras frases de censura “vindas” do
mestre.
Também tive muito pouco a dizer no que diz
respeito ao material empregado na confecção do bordado. A cor, a textura, a
largura e o comprimento dos traços definiram o tipo de material, a tonalidade
das fitas e linhas e os pontos empregados. Um exemplo foi a folhagem vista
através da janela amarela. A paisagem me pedia fitas. “Mas eu nunca bordei com
fitas!”, eu replicava. “Mas nós somos
fitas!”, elas insistiam, e por meio de fitas elas se concretizaram no meu pano
vermelho. E nessa contínua interação com a obra do mestre, analisando suas
entranhas e seus detalhes, desvendando o material que cada traço, cada forma e
cada ponto de cor precisava para se materializar no meu trabalho, eu fui
penetrando na intimidade da obra, desvendando sua perfeição.
Por
meio desse esforço, descobri uma ciência onde só esperava encontrar sentimento
e espontaneidade e renovei minha admiração e apreço por esse artista tão maravilhoso e surpreendente.
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Flavia Herriges
Quando minha fofíssima
professora Jaci me convidou para participar de uma exposição de bordados,
fiquei muito receosa, mas, ao mesmo tempo, as idéias começaram a surgir na
minha cabeça.
Jaci borda como uma fada e
iria participar da exposição, também. Neste momento um frio na barriga
apareceu. Falei para ela que poderia tentar, mas queria muito a sincera opinião
sobre meu bordado. Quem conhece a Jaci, sabe que ela iria me apoiar, portanto, tinha
que contar, também, com o meu bom senso do qual fazia parte minha família.
A partir daí, vivi outro
impasse: que obra escolheria...
Neste momento, minha filha
Marina entrou com a sua experiência como designer e seu conhecimento em artes
para me ajudar a escolher uma obra em que a releitura seria mais fácil de bordar,
pois afinal tenho só um ano no mundo dos bordados. Pesquisamos bastante e
chegamos à escolha de Djanira, porque, além das obras serem belas, me trouxeram
lembranças da minha infância e de viagens.
Fiquei feliz com o
resultado.
Fulvia Cristiano
Descobrir o gosto pelo bordado foi fácil! Já adivinhar que eu tinha
talento para a coisa e que, com apenas um ano me dedicando a este prazer, eu
poderia participar de uma exposição com outras bordadeiras tão talentosas...
Esse foi um processo repleto de felicidade, aprendizado e, realmente, de
descobertas! As linhas me amarraram e os panos me envolveram – às vezes
literalmente! As tardes de aulas/companheirismo/risadas acordaram em mim
sentimentos que estavam de lado (à força) pelo corre-corre da vida, que nos
exige cada vez mais praticidade e lógica.
Participar dessa exposição me trouxe de volta as cores, as curvas, as
texturas, a dimensionalidade e, por que não? as devidas proporções! Saber que o
prazer é proporcional ao compromisso que a gente assume com o que gosta e que a
recompensa de ver um trabalho em conjunto é proporcional à responsabilidade que
a gente assume com nossos amigos.
Talvez seja por isso, e mais um tanto, que batizei minha releitura de
Monet com o nome de Felicidade em Cores.
Tanto a pintora, retratada no bordado, como eu, bordando seu dia ao sol,
sabemos que as cores e a arte preenchem nossa experiência de vida com esse
sentimento de felicidade.
Só posso agradecer a Jaci que, com seu dom e paciência, me apresentou a
esse maravilhoso mundo do bordado!
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Jaci Ferreira
Registros de minha infância
Fui apresentada ao Mestre Militão por uma aluna, cerca de dois anos
atrás. A explosão de cores me cativou à primeira vista e, ocasionalmente, a
singeleza de seus traços ressurgia em minha memória instigando um desejo de transpô-la
para o tecido. Em função da precariedade de minha visão, contudo, renunciava ao
intento me julgando incapaz de realizá-lo. Como poderia bordar a riqueza de
detalhes quase imperceptíveis que, entretanto, sempre presentes em sua obra, se
tornaram signos de sua pessoalidade, permitindo distingui-lo dos demais
representantes da arte naïf?
Entretanto, de acordo com Riobaldo, os
inesperados da vida nos trazem o que no fundo desejávamos mesmo antes de saber.
(Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, 1956). Começando a organizar a
mostra Bordando os Sete, Militão foi o primeiro a ser incluído na lista dos
homenageados. Admiração compartilhada, aliás, com mais quatro integrantes de
nosso grupo.
Mesmo temerosa e ciente de minhas limitações, escolhi a pintura Brincadeira de roda por conter algumas
cenas evocativas do meu imaginário afetivo infantil. Acreditei que a
familiaridade amenizaria o desafio. E
assim foi... Ao aquarelar o terreiro relembrando o espaço de outrora onde
pulava corda, aspirei novamente o cheiro da poeira no ar. Pincelei as casas, o
céu e as plantações com os tons da criancice e das ruas da vila onde nasci. E
com as mãos guiadas pelas lembranças de menina escolhi carinhosamente as
linhas, cores e texturas para registrar a obra deste admirável Mestre que transpõe
para as telas as belezas que o habitam, seus afetos mais significativos e seu
amor pela natureza.
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Lucia Schwery
O convite para participar deste recém formado
grupo, Ciranda Bordadeira, é um
privilégio!!!
Van Gogh foi minha opção com a
tela Blossoming Almond Tree, com
claras influências japonesas, pintado em Saint Rémy, em 1890.
A satisfação e o desafio de,
aos poucos, poder apresentar em bordado o trabalho de um mestre e, com minha
releitura, poder expressá-lo foi, sem dúvida, algo muito gratificante!
A busca por fios, texturas, cores
e pelos pontos adequados mostrou-se uma experiência nova que me levou a muitos
exercícios e combinações até a decisão final.
A oportunidade de acompanhar os
trabalhos elaborados por diferentes mãos mostra que o bordado, assim como a
escrita, é uma linguagem pessoal.
Tenho certeza que este,
primeiro de muitos projetos deste grupo, terá sempre um lugar especial em meu
coração...
Luciana Bravo
A base é a mesma: um pedaço
de tecido, uma agulha e algumas linhas. Mas, então, o que faz com que cada
bordado seja uma obra de arte única, impossível de ser repetida ainda que pelas
mesmas mãos criadoras? Em caso de dúvida, faça o teste: dê um mesmo tema ou
modelo para duas, cinco, dez, cem bordadeiras. Com certeza o resultado será
igual número de diferentes trabalhos. Isso porque cada escolha, cada ponto,
cada tipo e cor de linha, cada pano de fundo farão dessa obra uma peça única. É
exatamente isso que me encanta e me move: o bordado é fruto da criatividade, da
capacidade, delicadeza, perseverança e muita inspiração da bordadeira.
Muito mais do que surpreender
os que me conhecem, ter me tornado uma bordadeira ainda me espanta. Ser capaz
de tecertodas as texturas, cores, sombras, volumes, perspectivas e profundidade
que dão vida a um produto da minha imaginação... isso é algo mágico. Sim,
requer técnica, mas, acima de tudo, é um ato de amor.
Participar da exposição Bordando os Sete e, mais ainda, fazer
parte da Ciranda Bordadeira – este grupo
de mulheres tão sensíveis, capazes, criativas e criadoras – é uma verdadeira
honra. Vocês me permitiram ter a ousadia de me ver como uma bordadeira e, por
que não, como uma artista.
Que venham os próximos
trabalhos e desafios. Já estou de agulha em punho!
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Mieko Makino
Quando comecei a bordar
para a exposição Bordando os Sete fiquei
muito feliz, mas ao mesmo tempo preocupada, pois a responsabilidade seria
grande. Nunca havia feito nada parecido!
Escolhi o Militão dos
Santos por ser um pintor brasileiro e por admirar sua obra já há algum tempo.
Seu estilo cheio de detalhes, colorido e seus temas são muito familiares, lembram
minha infância. Durante o processo, nas aulas, trocávamos idéias, elogios, pontos
e, principalmente, risadas. Foi tão gostoso e prazeroso que eu não queria mais
que terminasse. A cada olhar, me parecia sempre faltar mais alguma coisa.
Acredito que essa troca, essa
ciranda é que fez com que os bordados, sem exceção, ficassem tão maravilhosos.
No dia da exposição quando
terminamos de colocar todos os trabalhos na parede, foi uma grande emoção
vê-los juntos, no mesmo espaço! Senti um orgulho enorme não apenas pelo meu
trabalho, mas pelo conjunto, pela beleza e pela força emanada de sua presença num
mesmo lugar. Aí percebi o quanto é poderosa essa Ciranda Bordadeira.
Parabéns a todas nós!
---------------------------------------------------------------- Olinda Evangelista
Embora
eu não conhecesse todas as mulheres que participariam da Exposição Bordando os Sete, que ocorreu no Flores na Varanda, em SP, em março e
abril de 2012, eu intuía que bordar a quarenta mãos seria uma experiência fundamental
em minha vida de bordadeira.
O bordado sempre me amedronta quando começo a
pensá-lo... Nesse caso, o temor foi maior, pois escolhi um cartaz de Djanira,
de 1956, pintado para a peça teatral Orfeu
da Conceição de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. A escolha juntou duas
facetas de meu trabalho – bordado e poesia– e deveu-se a dois fatos: Djanira morara
em Santa Catarina, estado em que resido; o filme A música segundo Tom Jobim, de Nelson Pereira dos Santos e Dora
Jobim, de 2011, mostrava o cartaz para Orfeu
da Conceição. Comprei livros sobre ela e também o texto da peça. Fui aos
poucos me apropriando dos dois universos – o da pintora e o da peça.
Demorei a encontrar o “ponto certo”
do bordado... O cartaz retratava dois amantes abraçados a um violão em uma
noite enluarada. Recolhi muitos panos até me decidir por aquele que serviria de
noite. Comecei a bordar em brim e desisti. Nem o tecido, nem a poesia que
ficaria no fundo do bordado, me agradavam. Escolhi novo tecido, cetim azulão, e
nova poesia – um trecho da peça de Vinicius. O bordado, agora sim, florescia
embalado pela trilha sonora do filme Orfeu
Negro, de 1959.
Não raras vezes temi pelo resultado
de meu trabalho, especialmente porque diferia, na técnica, dos bordados que
comporiam a exposição. Entretanto, minha intuição estava certa! Vi que bordar a
quarenta mãos foi possível. O que nos uniu, as vinte bordadeiras, não foi a
escolha dos pintores, não foi a capacidade técnica, não foi a maestria na
execução dos pontos. Penso que o que nos
uniu foram as linhas, as agulhas, as tesouras, os panos e o amor pelo bordado. Penso,
ainda, que quem nos conduziu para esse grande processo de criação e
conhecimento foi a Jaci, a quem devo profunda gratidão.
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Rosângela Barbosa
Bordar é um poetar com linhas, tecer pensamentos. Bordo porque busco a poesia que há na vida. Bordo porque busco a poesia que há na minha alma.
E porque não poetar com linhas? Poesia de cores.
A viagem da agulha que trilha no seu rítmico traspassar é a viagem
dos meus pensamentos e ali, no pano, tecidos ficam os seus rastros.
Para sempre, ali, um pouco da minha alma.
Nesse lugar onde posso ser criança, bailarina, cigana, flor,
bicho, nuvem, rastro de cometa, posso ser futuro e posso ser lembrança, posso o
que quiser.
É um mergulho no mar.
É como brincadeira de criança, só que quem brinca é a mulher.
E quando mulheres se encontram para bordar são como meninas
brincando na praia, corremos todas juntas para o mergulho, cada uma irá buscar
seu tesouro e trará à superfície.
Esse tesouro é a poesia, feita de linhas, cores e principalmente
da beleza que carregam na alma.
Isso resume, para mim, o que está sendo esse cirandar.
Um privilégio de dividir os tesouros guardados na alma dessas
maravilhosas mulheres, tão diferentes entre si, mas que carregam essa beleza em
comum.
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Suely Galli Soares
O ato
criativo pressupõe a socialização da experiência para que atinja outros
horizontes e sujeitos; para que não adormeça solitário em gavetas, álbuns,
armários; para que denuncie anunciando possibilidades de encontro, de
comunicação e produção de conteúdos e de conhecimento por meio do experimento
intencional e direcionado, alimentando a inquietação criadora que move o
artista. Ocupado em suas tardes e noites no fazer artístico, ele realiza o
trabalho que nutre a própria alma e sensibiliza pela poesia que, no outro, sua
obra inspira.
O bordar
aliado à arte em tecido é ampliado com a pintura aquarela e outras inserções de
materiais, abrindo espaços para novas leituras e interpretações do belo. É o
caso dessa experiência que reuniu, apesar das distâncias geográficas, pessoas
de diversos lugares, unidas pelo objetivo desafiador de retratar ícones
contemporâneos ou clássicos da pintura, utilizando linha, agulha, tecido e
tinta, numa ousadia criativa e fiel ao pintor (a) e obra escolhidos. Idéia
inovadora a ciranda das bordadeiras
marca, com pontos, cores e representações, um empreendimento artístico cultural
com perspectivas promissoras.
A
sociedade atual em seus ritmos acelerados e intensos requer cada vez mais,
momentos compatíveis ao nosso sistema biológico e psicológico, respeitando o
indivíduo e a diversidade cultural. A arte em tecido, sobretudo o bordado, tem respondido
a essa necessidade, seja para quem cria, seja para quem é socializada a criação...
Aparece num novo contexto histórico, mas elas, as bordadeiras internautas, não
são diferentes daquelas que iniciaram essa cultura, possuem a mesma
sensibilidade e desejo de criar transformando, a cada ponto, laçada e nó, a
arquitetura da paisagem, desenho, do ato em si de bordar!
Gudiol foi
minha escolhida por inspirar-me a leveza dos personagens, melancólicos, cheios
de vazios, em que a mulher, na maioria das cenas, é protagonista da mensagem
aberta às interpretações. Em nossa leitura bordada e aquarelada criamos o
cenário para o nu que dispensa elementos, por estar carregado de sentimentos! Intitulei
meu trabalho de Meu silêncio, meu umbigo por remeter-me ao nosso próprio encontro pela entrada do
ventre, rumo ao pensamento!
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Suiang Guerreiro
Quando comento com algumas pessoas que eu bordo, às vezes
sinto uma condenação velada no ar: “Que coisa mais antiga!”, que me soa como
“coisa de velho”. Realmente, bordar é uma arte muito antiga, mas que ganhou
ares de modernidade na proposta de bordado livre da Jaci.
Junto com a felicidade de bordar Militão, está a delícia
de trabalhar em grupo – um grupo de mulheres de várias idades, de diferentes
profissões, mas com um entusiasmo juvenil na realização de um trabalho
artístico inusitado. Transformar obras de grandes mestres da pintura em
inúmeros pontos é coisa que exige audácia e uma boa dose de disposição. Sinto
que o grupo tem uma energia muito forte, sempre disposto a grandes desafios. E
que venham muitos outros!
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Talita Ribeiro
Ser convidada para
participar do projeto Bordando os Sete
reacendeu uma chama que estava já fragilzinha, sem força para seguir em frente
sozinha: a do falar pelas mãos, com agulha e linhas. Fazer parte de um grupo,
ser chamada de bordadeira, escolher um(a) pintor(a), uma obra... tudo isso foi
muito estimulante!
Escolhi a Anita
Malfatti porque quis prestar uma homenagem à tia Lilia, amiga querida e
sobrinha da Anita, que já está com 90 anos! Fui pesquisar sobre sua vida,
viajei com ela para a Europa e os Estados Unidos. Sofri com seu sentimento de
rejeição, exclusão e solidão. E fui parar no Maine, onde ela pintou “Paisagem
Amarela” que, por razões óbvias, eu chamei de “Solitude”.
Cada ponto era
conversado com a Anita, pedia a sua aprovação. Não queria desrespeitá-la num
trabalho que, até então, era só dela. Hoje é meu também.
Gostei muito de
ser uma das 20, de conhecer pessoalmente várias delas e virtualmente algumas.
Tenho um carinho especial pela Jaci; que,
cheia de vigor, vai atrás das novidades, tem ideias mirabolantes e dá até o
sangue pra que elas se viabilizem.
Minha paisagem foi
solitude, que é a escolha de ficar sozinha. Mas nunca fui solitária, pois a Ciranda vai rodando e apresentando uma
colega aqui, outra ali, e acabamos sempre muito bem acompanhadas.
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Vera Simonetti
Participar da
exposição Bordando os Sete com uma interpretação
de obra da Montserrat Gudiol teve um significado importante para mim.
Ainda em
tratamento contra um câncer de mama, levei certo tempo para me decidir por esse
corpo nu, branco, sem cicatrizes, contra um fundo verde com algumas variações
de tom, melancólico.
Numa fase onde
a recuperação dos meus cabelos expressava também uma mudança de outros aspectos
de minha vida, o turbante vermelho, então, fez a diferença, foi decisivo na
minha escolha. Ali eu podia inventar à vontade com rendas, diferentes tons
vermelhos, linhas e pontos variados. E quebrar a “monotonia” do vermelho com um
lilás/azul se intrometendo, também, nas três cores da pintura original: o
branco, o verde e o vermelho.
Amo árvores,
flores, plantas. A fantasia continuou quando o fundo verde aceitou uma árvore
florida e um canteiro de flores ainda em construção...
Fantasia é o nome do
meu bordado.
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Vilma Simas
Eu já
havia começado a bordar uma das obras de Matisse, por pura curiosidade, quando
a Jaci me falou da sua vontade de montar uma exposição com sete pintores
importantes. Adorei a idéia. Mesmo estando em outra cidade, longe de São Paulo,
achei que seria uma excelente oportunidade de participar de um trabalho sério.
Será que vou conseguir bordar a altura?
A
primeira coisa que resolvi fazer foi conhecer um pouco mais meu mestre (será
que posso chamá-lo assim?). Depois só me restou seguir em frente. Passei várias
tardes quentes, sozinha em Belmonte, na Bahia, envolvida pelo silêncio lá de
casa, pelas cores e fios. Me sentia a própria Penélope! O tempo passou
diferente. A natureza passou a ser meu relógio. O pôr-do-sol, que acontece do
outro lado do rio, e a volta para a ilha, aonde dormem, dos imensos bandos de
garças é que me indicavam que era hora de parar. Parar não apenas pela luz que
ia embora, mas porque eu não podia perder este espetáculo.
Os movimentos e as cores se embaralhavam numa incrível harmonia que mais
parecia uma dança. Eu tentava não perder nada e buscava assimilar a organização
das cores!! É uma preocupação para mim fazer com que elas correspondam às
minhas emoções. Quantas vezes achei pequena e pobre a gama de cores da DMC! Eu
precisava de mais!
Paralelamente
a tudo isto, a Mulher Russa (nome que
dei ao meu trabalho) foi ganhando vida no meu pedaço de tecido. Nós foram
feitos e desfeitos. Eu não sabia o que era preguiça. Cores eram trocadas. O
chão ficou cheio de agulhas perdidas e de pequenos pedaços de linha.
De
repente me dou conta que chega! Ela está pronta! Que pena.
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Mestre Militão, em suas próprias palavras...
Pintor,
eu sou um pintor, repito isso o tempo todo, para que esta certeza não se perca
na contínua profusão das informações que chegam à minha mente. É um emaranhado
de coisas que muitas vezes demoro assimilá-las, mas gosto do modo despreocupado
e silencioso, sem pressa, com que desenvolvo e curto meu trabalho, cada imagem,
cada sentimento colocados na tela, o cheiro forte da terebintina, enfim, tudo
isso me transporta para dentro de mim.
E de repente percebo que o tempo passa depressa demais, não
sei se quero acompanhá-lo.
As notícias são rápidas, quando consigo digeri-las, elas já
perderam a importância, ou caíram no esquecimento. Penso, será que a arte
caminha na mesma direção? São tantas coisas novas que surgem, tantas
ferramentas tanta modernidade, a digitalização, o giclée, a promessa de que uma
obra pode ser eternizada através da tecnologia, e eu fico assustado com tudo
isso, como alcançar a tempo todas estas novidades?
Pergunto-me: será que os meus pincéis, os panos sujos, a
delícia do cheiro forte da tinta em minhas narinas, as mãos borradas de cores
diversas, a desordem por todo lado, o prazer no ato de fazer nascer uma obra,
será que tudo isso em breve fará parte do passado?
Vejo os jovens que chegam cheios de idéias maravilhosas,
ilustrações perfeitas, e nenhum pincel... Nenhuma espátula, nenhuma mão suja de
carvão.
Sinto melancolia nestes momentos, e assim, as coisas vão
chegando hoje a uma velocidade muito maior que chegaram às nossas avós, e
também não conseguimos acompanhar.
Quando era criança, e rabiscava as paredes e papeis de
embrulhos, minha irmã me deu material artísticos porque percebeu que ali
poderia haver algum talento escondido...
Vi meus filhos crescerem sem riscar as paredes, apenas
grudados nos vídeo games, mini games e coisas do tipo... Acho que meus netos nem
vão saber o que é papel, lápis de cera, massinha de modelar, todas aquelas
“ferramentas” que na época me despertaram para o mundo da imaginação e
criatividade.
Hoje as “ferramentas” são outras, a maneira de criar é
diferente, e são boas, apenas não tem mais o romantismo do velho atelier, onde
os artistas faziam nascerem maravilhas, apenas com sua imaginação, óleo de
linhaça e algumas bisnagas de tinta, não existia a preocupação de estar ligado
a um nobrake por medo de perder horas de trabalho e sono.
E assim caminhando entre os versos e pincéis, éramos todos
poetas e plenos, porque o ato de criar fazia com que todos os nossos
sentimentos aflorassem.
Eram músicos, compositores, poetas, boêmios e contestadores,
hoje são peritos em ferramentas tecnológicas... E o romântico idealismo se foi,
permanece vivo apenas em nossa memória, e nos vestígios que ainda hoje
guardamos daquele velho avental sujo de tinta.
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